Sua piranha! Seu piruzinho!

Já notaram que, entre os xingamentos existentes hoje em dia, a maioria tem cunho sexual? 

E existe uma regra muito simples. Você quer xingar uma mulher? Chame-a de uma deprevada, de uma devassa. Aí entam os nomes de mais baixo calão desde a simples "piranha", até a mais complexa "arrombada" (pra mim, esse é o pior). Já se você quer mal-dizer um homem, faça o contrário, diga que ele é incapaz sexualmente, que ele possui uma sexualidade fraca. O mais clássico é o famoso "brocha", passando pelo "viado", até o famoso "pau pequeno" ou "piruzinho".

Por trás disso tudo reside o famoso machismo. Apesar de estarmos na segunda década do século XXI e há quatro década da revolução sexual dos anos setenta, ainda estamos muito ligados à ideias e conceitos muito fortes do século XX. Neles a mulher, obviamente, tem que ser uma frígida, não pode possuir desejos nem vontades, precisa estar eternamente em busca de um amor e se entregar pra ele e somente pra ele. Trair a torna uma mais completa vagabunda e será difamada por toda sua rua.

O homem não. Ele precisa sempre reforçar sua sexualidade, tem que ser o melhor na cama, pegar dez numa mesma noite, transar com quantas mulheres conseguir com seu sex appeal. A traição para ele é socialmente aceitável e geralmente perdoável pela própria parceira. Mas se ele é traído, isso quer dizer que não conseguiu satisfazer por completo sua mulher e é um frouxo, um brocha, um corno. Ser gay? Nem pensar, a sua sexualidade é intocável.

Dentro dessa pedra inquebrável que é a sexualidade masculina, um pênis grande significa força, satisfação para a parceira e quantas mulheres quiser. Um pequeno é o inverso, um cidadão incapaz de fornecer prazer e de dar prazer, o que o faz um brocha e um corno por tabela. Verdade? Nem sempre.

O culto ao pênis não é novo. Civilizações antigas já cultuavam estátuas de pênis, os priapos, que eram verdadeiros deuses da fertilidade e da prosperidade. Um pinto com tamanho considerável simbolizava um parceiro viril, um verdadeiro deus. Talvez essa explicação seja biologicamente aceitável, assim também como mulheres com quadril largo são melhores "parideiras" e homens musculosos são melhores caçadores e, por consequência,  provedores.

Mas um pênis menor não significa necessariamente menor satisfação da parceira (ou parceiro). O sexólogos dizem que o maior órgão sexual é o cérebro e que a relação sexual não se restringe a um pênis e uma vagina (ou alguma outra coisa, como queira). O sexo está na interação completa entre os parceiros, se compõe de duas pessoas trocando carícias. Não é apenas um falo entrando em um buraco (convenhamos que para isso se inventou o vibrador, né?).

Portanto, se alguém diz "pau pequeno" a alguém em tom de ofensa, não está querendo fazer um xingamento no estilo de "narigudo", mas, sim, está querendo chamá-lo de sexualmente incapaz. O que, sejamos sinceros, não é verdade, já que um pênis menor com boa performance sempre será superior a uma anaconda morta. Então, se alguém lhe chamar de "piruzinho", não retruque com "sua piranha" ou "seu viado", porque você estará se igualando a eles. Apenas diga: -Tenho sim, e daí?!